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sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Momentos difíceis...


Hoje tive uma notícia  triste…
Soube que um dos meus antigos alunos está doente, bastante doente.
Estou triste… perdida….
Doí-me o peito…  
Doí-me a alma…
Esta é uma história que já vivi algumas vezes ao longo destes meus 44 aos de educação de infância, mas o sentimento é sempre o mesmo…  Tristeza, impotência, desespero…  Fico perdida, desfeita, devastada. Que triste estou!
Cada vez que algum deles adoece, a minha alma adoece também.
Cada vez que um deles parte, um pedaço da minha alma parte com eles…
Dói, dói muito, dói fundo… Dói... Dói... DÓI!!!
Ainda não consigo acreditar que aquele menino de 4 anos, alegre, feliz, criativo, que sabia sempre o que queria, que fazia tantas traquinices, que falava de coisas difíceis como se fosse um rapaz  crescido, que me dava uns abraços tão saborosos, tão generosos, tão doces, que tinha tanto talento para lidar com as novas tecnologias numa altura em que as escolas ainda estavam pouco equipadas, que rejubilava  quando eu levava o meu computador para ele fazer as suas “posquisas”, que gostava de brincar “aos cães”, sempre a explicando que, quando a mãe chegasse, não podia brincar mais porque tinha que ir para casa e a mãe não queria lá animais, que me fazia mil perguntas sobre o que é viver ou o que é morrer, que me afirmava que eu, um dia, ia morrer, porque a avó dele tinha morrido e o pai lhe tinha explicado que um dia todos morrem, que me pedia para lhe desenhar um avião porque queria ir ver a avó ao céu, aquele menino está doente… Não dá para acreditar. Estou triste, triste, tão triste!
É nestes dias que eu queria ser uma fada, ter uma varinha mágica, ou poderes especiais para poder mudar o curso da vida… É nestes dias que eu queria ter qualquer poder magico, para afastar  dele este mau momento. 
Estou triste, tão triste... E dói, dói muito, dói profundamente!...

Meu lindo menino, meu menino de ouro, menino do meu coração, penso em ti mais do que nunca, em cada momento, numa espera ansiosa e assustada e rezo, rezo muito, na esperança que através da minha oração se possa mudar o rumo horrível das coisas e tu consigas, rapidamente, superar este mau momento. Rezo por ti meu lindo… Rezo…
Entretanto quero que saibas que eu ainda estou aqui para ti, vou ficar sempre aqui para ti e digo-te, como dizia quando tinhas quatro anos, caías no recreio, esfolavas os joelhos e choravas no meu colo… Vai passar meu lindo, vai passar!

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Foram tempos de mudança...


Faz hoje 50 anos que o homem chegou à lua. 
Faz hoje 50 anos que fiz a minha primeira noitada. 
Faz hoje 50 anos que o mundo da tecnologia chegou a minha casa porque, para poder ver a chegada do homem à lua, comprou-se uma televisão. 
Faz hoje 50 anos que a minha casa, até aí apenas ligada à vida na aldeia, escancarou a janela e, mesmo implantada num caminho de terra e pedras sem vestígio de alcatrão, lá bem na ponta da aldeia, abriu as portas ao mundo. 
Faz hoje 50 anos que a minha vida mudou para sempre… A tecnologia entrou em minha casa.
Passámos a noite acordados. Grande aventura e excitação para uma miúda de treze anos que se deitava sempre às 21.30h, porque o liceu era a 30 km de casa e era preciso acordar cedo para lá chegar a horas. Estar acordada até o homem pisar a lua, foi ser admitida no mundo dos adultos, foi ser considerada crescida. E não dormi. Nem eu, nem a minha mãe nem uma das minhas irmãs. Esperámos, resistentes e com a missão de acordar quem tivesse adormecido.
Era madrugada quando Neil Armstrong desceu da cápsula lunar, com o seu fato de astronauta e as suas botas gigantes. É disso que me lembro; disso, dos saltos gigantes que tanto invejei e que tanto me fizeram sonhar, disso e do facto de ser de madrugada em Portugal e de, na lua, ser de dia e haver luz, disso e também das lágrimas comovidas da minha mãe… 
“Que é isso rapariga?”, perguntou o meu pai pouco habituado a lágrimas. 
“É que o mundo hoje mudou para sempre. Nada mais será como antes”, respondeu a minha mãe. Tinha toda a razão. A partir daí começou a estranheza. Os homens da aldeia, que até aí, ao fim da tarde, na leitaria do Sr. António, conversavam prazenteiros e descontraídos em frente a uma caneca de café de cevada, passaram a discutir acirrados e ardorosos, divididos em crentes e não crentes do grande feito do Homem: “Uma maravilha”, diziam uns. “Coisa do demo”, diziam outros.  E tudo na aldeia mudou. Desde esse dia, todos os animais nascidos na aldeia deixaram de se chamar “catitas", "tarecos", "bobbys", "estrelas" ou "galhardos” para passarem a ser “Apolo XI”, “sputnik”, “foguetão” "laika" ou “lua”, tudo para que aquela data não fosse esquecida. E as mulheres quando à segunda feira iam ao rio lavar a roupa, à força de comentarem as "modernices" e "sem vergonhices" dos tempos que corriam, descuravam a vigilância sobre nós o que nos permitia algumas aventuras proibidas. Tudo isto em pleno verão de 1969. Eram tempos de mudança.
"É um pequeno passo para o homem, mas é um passo gigante para a humanidade" comentou Neil Armstrong ao pisar o solo lunar. Sem dúvida alguma uma verdade indiscutível!
A  vida nunca mais foi como era antes...